terça-feira, 28 de outubro de 2008

OS TEXTOS DOS NOSSOS CONVIDADOS

A propósito da festa “PORTUGAL – 50 ANOS DE CICLISMO” de 2006, escreveu o meu amigo José Alberto Vasco no seu blog http://nasfaldasdaserra.blogspot.com o texto que aqui me autorizou, agora, a reproduzir e que se refere mais pormenorizadamente à paragem forçada do “Porto-Lisboa” em Alcobaça, no dia 10 de Junho de 1982.
As razões que levaram os alcobacenses a impedir a continuação da prova ficam pois aqui expressas:


O DIA EM QUE ALCOBAÇA TRANSFORMOU O PORTO-LISBOA EM PORTO-ALCOBAÇA!
Em plena II Semana do Ciclismo, em Alcobaça, lembrámo-nos de aqui recordar uma nossa postagem de 30 de Outubro de 2006, lembrando o dia 10 de Junho de 1982, data em que a população de Alcobaça interrompeu, em pleno Rossio a prova ciclística Porto-Lisboa. Essa foi uma época desportiva muito confusa em Alcobaça, dado que o Ginásio havia então conseguido, pela primeira e única vez na sua História, subir à então I Divisão do Campeonato Nacional de Futebol. A subida tinha sido conseguida, dentro das quatro linhas, alcançando a pontuação para esse efeito necessário na Zona Cento do Campeonato Nacional da II Divisão, tendo os últimos pontos para esse efeito necessário sido conseguidos em Maio daquele ano, num renhido jogo disputado contra o Beira-Mar, no Estádio Municipal de Alcobaça. O único problema então criado, e o caso não era para menos, era o de essa subida do Ginásio à I Divisão implicar directa e inapelavelmente o impedimento (desportivo) de o Clube Académico de Coimbra (então descendente directo da histórica Académica) conseguir também essa proeza. Numa época em que a falta de seriedade desportiva campeava já nos campeonatos portugueses de futebol, o Conselho Técnico da Federação Portuguesa de Futebol e o próprio Académico tudo fizeram então para que a situação se modificasse. Para isso bastaria que se repetisse um jogo anteriormente empatado pelos conimbricenses, que ganhando esse jogo ultrapassariam o Ginásio no 1º lugar do campeonato, impedindo a subida que desportivamente conquistara.
O caso era grave e os alcobacenses não estiveram então com meias medidas, tratando então de tentar fazer ver os seus pontos de vista a todo o país e evitar a todo o custo a tramóia que então contra si preparavam, sendo curioso e oportuno referir que o faziam apoiados pelo então Presidente da Câmara, Rui Coelho, e por muitas outras importantes personalidades locais. Alcobaça acabou nesse ano por vencer também fora das quatro linhas e conseguir evitar que fosse decidida a repetição do tal jogo cujo resultado (se favorável ao Académico) impediria a sua subida directa à I Divisão. De entre todas as acções então empreendidas por um enorme grupo de alcobacenses a mais marcante e mediática desenrolou-se a 10 de Junho de 1982, feriado nacional, data em que se verificava mais uma edição da quase mítica prova velocipédica Porto-Lisboa, cuja passagem por Alcobaça constituia um dos seus pontos mais relevantes e populares. Nesse mesmo dia, realizou-se em pleno Rossio uma espécie de Assembleia Geral Extraordinária do Ginásio e de Alcobaça, na qual se destacaram muitos discursos de inflamada resistência pelos direitos desportivos dos alcobacenses. Naquela que terá sido a mais concorrida assembleia de sempre em Alcobaça acabou por ser decidido, por aclamação, que nesse dia o Porto-Lisboa se transformaria em Porto-Alcobaça e que aquela apreciada competição velocipédia seria pura e simplesmente interrompida (de vez!) no Rossio de Alcobaça. Assim se decidiu e assim (logo) se fez, tendo-se então começado a barricar estradas e passeios do centro da cidade com o que havia à mão e principalmente com alguns milhares de indignados alcobacenses! O resto da história já se sabe e ainda se recorda, e não haveria mais jogos nem alteração da classificação do Campeonato Nacional da II Divisão dessa época. Confirmou-se assim a subida do Ginásio à I Divisão, onde permaneceu apenas uma época, e se é verdade que esse feito do Ginásio acabou por não apresentar grandes resultados futuros, também é verdade que dessa vez ninguém conseguiu fazer os alcobacense passarem por parvos!
É claro que quem pagou as favas de tudo aquilo foram os ciclistas e essa edição do Porto-Lisboa, que ali morreu por uma boa causa, renascendo no ano seguinte, para gáudio de todos os que nesta terra e neste país se deliciam com o ciclismo e os seus heróis!

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