segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O Nosso Balanço

O "Porto - Lisboa"

O Nosso Balanço
1 - Introdução

Terminada a festa, arrumada a casa, escorraçado o "stress", retomadas as forças com o S. Martinho e as castanhas, importa agoa fazer um balanço desta 2ª edição da festa "PORTUGAL - 50 ANOS DE CICLISMO":

Positivo o encontramos, pois, malgrado as imperfeições, os erros, as omissões, parece-nos ter valido a pena o esforço. Mesmo quando, como foi o caso, tivesse havido quem o não tenha compreendido e talvez o devesse ter feito.

O Alcobaça Clube de Ciclismo é um clube pequeno e sem meios. Abalançámo-nos a esta iniciativa conscientes das dficuldades que se nos iriam deparar e elas existiram efectivamente, mas também muitos apoios foram bem reais. Não só económicos. Também as palavras, a colaboração, os incentivos nos sensibilizaram.

E valeu a pena. A "pedrada no charco" pode não ter resultado plenamente. Mas a festa encheu de alegria alguns dos homenageados. O sorriso de satisfação de alguns deles, o brilhozinho nos olhos, foi para nós compensação bastante de todos os esforços feitos.

Um reparo à imprensa desportiva nacional: Ignorar um evento desta natureza não é prestigiante, tanto mais que foram feitos diversos comunicados à imprensa. Só o "Jornal do Ciclismo" publicou um texto sobre a festa. Para a imprtância do acontecimento parece-nos pouco.

Uma palavra de apreço aos jornais da região que muito colaboraram na divulgação dos diversos momentos da festa. E, também, à PGM que fez, na SportTV, e vai fazer, na RTP Memória, um excelente trabalho de divulgação do ciclismo, dando a este acontecimento a importância que julgamos merecer.

Concluímos esta pequena nota de introdução com a informação de que nos dias seguintes iremos  fazer, em diversos apontamentos, o balanço de todas as actividades que decorreram em Alcobaça no âmbito desta festa. Esteja atento.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

OS TEXTOS DOS NOSSOS CONVIDADOS

Guita Júnior é um Jornalista a quem o ciclismo muito deve. A cobertura de 47 Voltas a Portugal e o excelente livro “História da Volta” guindam-no à companhia daqueles que muito e bem escreveram em Portugal sobre o ciclismo.
Convidado a intervir no nosso colóquio, não hesitou. E fê-lo com brilhantismo, como sempre. Publicamos, de seguida, devidamente autorizados, a sua intervenção e daqui lhe enviamos “aquele abraço”.

VAMOS RESSUSCITAR
O “PORTO – LISBOA”!...
EM DUAS ETAPAS

Alcobaça assistiu durante décadas à passagem da caravana do “Porto – Lisboa” e uma das edições, a de 1982, teve aqui o seu termo devido a um protesto da população por o clube local de futebol ter sido impedido de subir de divisão.


Quando o “Porto – Lisboa” passava em frente do Convento, esse dia era, todos os anos, um dia de festa, que fazia parte das tradições desta terra, que deve a sua paixão pelo ciclismo ao saudoso Gil Moreira.


Mas desde há quatro anos que essa tradição se quebrou, deixando um vazio nos hábitos das gentes de Alcobaça, que mantiveram, contudo, o seu entusiasmo pelo ciclismo como se demonstra pelo dinamismo da actividade do clube local.

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A clássica “Porto – Lisboa” morreu em 2004, depois de uma existência algo conturbada, mas com mais momentos felizes do que menos bons.

Nasceu em 1911, com a vitória de um estrangeiro, o francês Charles George, e deu o último suspiro com um português no pódio, o nosso contemporâneo Pedro Soeiro. Entre um e outro realizaram-se nada menos de 74 edições.

A sua história conheceu vário interregnos, uns devido a crises de natureza financeira, outros em consequência das guerras.

Realizadas as primeiras duas edições, em 1911 e 1912, as duas capitais do país só voltaram a ligar-se por esta popular manifestação desportiva seis anos depois, em 1918, com Joaquim Dias Mais, sucessor de Larangeira Guerra, a dra sequencia à primeira série de 35 vitórias de portugueses, interrompida em 1967 e 1968 pelos belgas Godefroot e Eric Leman.

O “Porto – Lisboa” esteve ausente nos anos de 1919 a 1921, 1923, 1929 a 1931, 1943 a 1948, 1950 e 1955, para a partir de 1956 prosseguir a sua existência até 2004, depois de dois anos antes ter experimentado, sem êxito, um figurino nada condizente com o espírito que levou à sua criação, transformado em prova por etapas e em estafetas.

Entre 1956 e 2001, o “Porto – Lisboa” conheceu a sua maior série de edições consecutivas, nada menos de 45, a que se juntam as de 2003 e 2004, pois a de 2002, pelo sistema em que foi disputado, não deverá considerar-se na lista da clássica de um dia, mas sim na lista da clássica de dois dias que vier a ser criada.

Além de Charles George (1911), de Godefroot (1967) e Eric Leman (1968), os outros vencedores estrangeiros foram o russo Oleg Logviin (1992), o brasileiro Cássio Freitas (1996), o búlgaro Atanas Petrov (1998) e os espanhóis Melchor Mauri (2000), que baixou o recorde para 7h 56m 27s, e Unai Yus, que apenas ficou a seis segundos daquela marca. Portanto, apenas oito estrangeiros inscreveram os seus nomes na lista dos vencedores do “Porto – Lisboa”.

Passando em revista essa lista, o destaque vai para Fernando Mendes que, com a camisola do Benfica, averbou três triunfos consecutivos nos anos de 1971, 72 e 73.

Também com três vitórias aparecem:
João Francisco (Campo de Ourique e Belenenses), em 1927, 28 e 33;
José Maria Nicolau (Benfica), em 1932, 34 e 35;
e Alexandre Rua (Coelima e FC Porto), em 1980, 82 e 84,

… a de 1982 com a particularidade, como já disse, da prova ter sido interrompida à passagem por Alcobaça.

O “Porto – Lisboa” foi, portanto, a maior clássica do ciclismo português, prova da qual se orgulham todos os amantes do ciclismo, ao longo de quase um século, que se completará daqui por três anos.

Bem se pode dizer que o “Porto – Lisboa” foi o precursor da Volta a Portugal, criada 16 anos mais tarde.

É certo que, no seu figurino original, o “Porto – Lisboa” não poderia continuar antes do mais pela sua quilometragem que ultrapassa em muito o que os regulamentos internacionais permitem.

No entanto, penso que seria possível mantê-la disputada em dois dias, com a possibilidade de se alterar o local intermédio com a chegada a uma localidade e a partida de outra, e quilometragem entre os 150 e os 170 Km.

É uma proposta que, certamente, não deixará de merecer a reflexão de quem de direito para corrigir um erro e fazer ressuscitar uma corrida que deve merecer o respeito e o carinho que é devido a tudo o que são símbolos de um passado da história desta modalidade desportiva.

GUITA JÚNIOR
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PS: É bom que se ponham os olhos no que, neste particular, se passa no estrangeiro, na longevidade de um “Paris – Roubaix” (261 km), criado em 1896,
num “Liége – Bastogne – Liége” (258,5 km), criado em 1892,
ou no Milão – Turim (199 km), que existe desde 1876,
para citar apenas três exemplos, da França, Bélgica e Itália.