sexta-feira, 17 de outubro de 2008

OS TEXTOS DOS NOSSOS CONVIDADOS

Com a sua gentileza habitual, enviou-nos o Dr. José Magalhães Castela,a nosso pedido, o texto que abaixo reproduzimos, destinado ao nosso blog e que muito lhe agradecemos. Leia o texto e certamente ficará a saber mais sobre o Porto-Lisboa, já que, como é sabido, é o Dr. José Castela, um dos conhecedores do nosso ciclismo e um dos seus grandes divulgadores, de que os livros que escreveu sobre Alves Barbosa e Venceslau Fernandes, são a prova.




HOMENAGEM AOS CICLISTAS QUE PARTICIPARAM NO PORTO-LISBOA




( Por José Magalhães Castela )

Quero em primeiro lugar felicitar o Alcobaça Clube de Ciclismo, em particular a sua Comissão Coordenadora, pela realização da feliz iniciativa de homenagear os ciclistas vencedores do Porto-Lisboa, uma prova de muitas tradições, infelizmente desaparecida do calendário velocipédico português, e que se realizava num dia de especial significado para todos: No Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Acedendo ao amável e gentil convite formulado pelo Alcobaça Clube de Ciclismo, no sentido de me associar à homenagem, nomeadamente através da produção do meu Testemunho, é com imenso prazer que aceito o repto, que para a mim, adepto do ciclismo de estrada, não deixa de constituir um desafio deveras agradável.



Nos últimos anos da década de setenta ou nos primeiros da década de oitenta, não posso precisar, e num momento de natural descontracção dos corredores, pouco tempo antes de ser dada a partida do Porto-Lisboa, ouvi uma voz no meio do enorme pelotão, que afirmava que … quem vencia o Porto-Lisboa nunca vencia a Volta a Portugal do mesmo ano … . Se tal circunstância se confirmava ao longo dos anos em que a prova se realizou, nunca a curiosidade me deu para indagar. E também é verdade que poucos anos depois, o Marco Chagas, nesse ano a correr na formação da Mako Jeans, desfez-me as dúvidas. Efectivamente, no ano de 1983, e entre outras provas, o Marco Chagas venceu o Porto-Lisboa e a Volta a Portugal, feito esse, e com os dados que agora possuo, já tinha sido conseguido por José Maria Nicolau do Sport Lisboa e Benfica, em 1934, por Francisco Inácio do Sporting Clube de Portugal, em 1941, e por João Roque, igualmente do clube de Alvalade, em 1963.

Estou convicto de que o Porto-Lisboa faz imensa falta no calendário velocipédico português. Para além de se constituir como uma prova de estrada de longa distância a ser feita num só único dia, julgo mesmo, que enquanto se realizou, foi mesmo considerada a mais longa prova de estrada de todo o calendário velocipédico a nível mundial. Para os corredores estou convicto de que não deixaria de constituir uma prova interessante, podendo mesmo serem desenvolvidos esforços com vista à presença de corredores de alto nível mundial.
Obviamente que se pode discutir o real interesse desportivo da prova, questionar a sua oportunidade no calendário velocipédico, duvidar do próprio piso da Estrada Nacional 1 ( que tanto se apresenta com um piso em tudo semelhante ao de uma auto-estrada, como o mesmo se apresenta em lamentável estado de degradação ), ou até mesmo constatar a impossibilidade da sua realização face à eventual ausência de entidades públicas ou privadas que se proponham a patrociná-la. É assunto que não discuto.
Verifica-se que países europeus de grandes tradições velocipédicas, tem as suas provas de estrada de longa distância. Provas, é certo, com características e traçados diversos, mas que não deixam de levar anualmente muitos milhares de adeptos da modalidade à beira das estradas e merecem mesmo a cobertura integral por parte das respectivas cadeias de televisão nacionais. Refiro-me por exemplo, ao Milão-S.Remo, ao Tour de Flandres, ao Gant-Wevelgem, ao Paris-Roubaix, à Amstel Gold Race, à Flèche Wallonne, ao Liège-Bastogne-Liège, à Clássica S.Sebastian, ao Paris-Tours ou ao Giro da Lombardia, só para referenciar as mais conhecidas.

Não queria no entanto concluir este meu Testemunho, sem referir uma prova, que ao contrário do Porto-Lisboa ( com 74 edições ), nunca teve a mesma expressão em termos de tradição e continuidade anual, mas nem por isso devemos deixar de referir neste acto de homenagem: O Lisboa- Porto.
O Lisboa-Porto foi uma prova que se disputou apenas por 13 vezes, de modo irregular, sendo a 1.ª edição realizada em 1934, com vitória de Ezequiel Lino do Sporting Clube de Portugal e a 13.ª edição realizada em 1988, com vitória do David Assunção do Boavista. Ao que consegui apurar, era uma prova que proporcionava médias mais lentas que a sua congénere feita ao contrário, ao que tudo indica, devido à constante presença de vento, tradicionalmente a soprar de Norte. Grandes nomes da modalidade inscreveram o Lisboa-Porto no seu palmarés, como Ezequiel Lino, Alberto Moreira, Alberto Silva, Francisco Valada, Pedro Moreira, Américo Silva, o italiano Luciano Armani e David Assunção. E Alfredo Trindade, Fernando Moreira, Emiliano Dionísio, Leonel Miranda e Carlos Santos, podem mesmo orgulhar-se de terem no seu palmarés, a vitória nas duas provas: No Porto-Lisboa e no Lisboa-Porto.

Para terminar, gostaria de referenciar, que se todos os corredores que participaram no Porto-Lisboa são dignos do nosso maior respeito e admiração, que me seja permitido no entanto, nomear quatro deles, que subiram ao pódium em Lisboa por três vezes, revelando-se especialistas neste tipo de provas: João Francisco ( 1927, 1928 e 1933 ), José Maria Nicolau ( 1932, 1934 e 1935 ), Fernando Mendes ( 1971, 1972 e 1973 ) e Alexandre Rua ( 1980, 1982 e 1984 ).

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