sexta-feira, 17 de outubro de 2008

OS TEXTOS DOS NOSSOS CONVIDADOS

O texto que se segue foi-nos enviado por Alves Barbosa que, por ser figura pública, dispensa quaisquer apresentações. Enviou-o, respondendo ao nosso pedido, com a gentileza, pontualidade e rigor que o caracterizam.
Há algum tempo, em cavaqueira amena, tínhamos-lhe dito que o tema da Festa ia ser “O Porto-Lisboa – a única prova que o Alves Barbosa nunca ganhou!”. Sorriu e – homem inteligente – compreendeu o elogio implícito...
E aqui vai, escrita pelo próprio, a explicação de nunca ter ganho o “Porto-Lisboa”, para que conste e todos saibam. E vai também um grande abraço para esse excelente amigo que é o Alves Barbosa.



“O PORTO – LISBOA”

A Prova que nunca ganhei…

Com efeito, durante a dúzia de anos que levei, correndo de bicicleta nunca consegui triunfar na segunda prova de maior impacto no Calendário ciclista português, depois da VOLTA A PORTUGAL!
Apesar da minha ambição de poder acrescentar ao meu Palmarés de êxitos uma vitória no Porto – Lisboa, que razões estiveram por detrás desse insucesso?... Do meu ponto de vista, isso aconteceu na sequência dum conjunto de parâmetros a que, aleatoriamente me irei referir:
O primeiro tem a ver com o facto de, durante o período em que fui corredor, apenas ter podido participar em quatro realizações do PORTO – LISBOA e isso por duas razões: um impedimento militar e a intermitência da minha presença em Portugal, nessa época. Com efeito, nas datas em que era disputado, cá, o PORTO – LISBOA, estive eu, em quatro VOLTAS A FRANÇA.
Depois aconteceu que eu, realmente, não sabia correr o PORTO – LISBOA, com os seus 360 Km. e as suas 8 / 10 horas de duração!... Na verdade, e no meu caso, (quando candidato à vitória), tinha que, individualmente, controlar as competições em que participava, da partida à chegada – tarefa que oscilava entre uma / duas horas e, muitas vezes, quatro / cinco horas.
Então o que é que acontecia, quando se tratava do PORTO – LISBOA?
Analisando o que se passou, eu alienava o, pormenor relativo às 8 / 10 horas de duração, mais os correspondentes 360 Km. a pedalar, do que resultava que, quem se comprometia em controlar a corrida para a ganhar, esgotava a “gasolina”, muito antes de chegar à meta!… Isso aconteceu-me, pelo menos duas vezes. Numa delas fiquei na zona do Ramalhal, (Torres Vedras) e a outra foi na subida de Vila Franca do Rosário. De cada uma dessas vezes, em que me faltou o “carburante”, caí num ritmo que nem sequer era o de cicloturista… Para mais lento, evidentemente.
No meu primeiro PORTO – LISBOA, quando cheguei ao fundo da Calçada da Carriche as minhas pernas, plenas de câimbras, não conseguiram responder ao ataque aí desferido pelo portista, Luciano Moreia de Sá, que foi conquistar a vitória na pista do Estádio de Alvalade.

Nas oportunidades, que tive de correr o PORTO – LISBOA, para além do que atrás ficou mencionado, sucederam algumas Estórias que de facto têm cabimento no texto presente.
Uma delas passou-se no PORTO – LISBOA em que fiquei na subida de Vila Franca do Rosário. Essa corrida, foi das mais espectaculares e desgastante da minha carreira. Fui obrigado a um esforço violentíssimo para anular uma fuga do rival, José Manuel Ribeiro da Silva, a qual durou de Coimbra a Leiria, (60 Km.)!... Só que Ribeiro da Silva, na passagem por Leiria, abandonou a prova, demonstrando que, para ele, o PORTO – LISBOA acabava ali, depois do desgaste a que já tinha obrigado o Alves Barbosa!... Foi assim que, nesse dia eu, fui acabar por ficar lá para os lados da SICASAL.
Na minha 3.ª participação no Porto / Lisboa, aquela em que eu me preparei, especialmente, contra tudo e contra todos, e me apresentei realmente, em condições de ganhar… surgiu o Imprevisto!... Ataquei, decisivamente, na subida da Carriche e conquistei um avanço de cerca de 200 / 300 metros em relação ao pelotão, trazendo comigo, dois outros corredores, (um deles o meu colega de equipa, António Maria). Era portanto uma situação que eu, ao sprint, esperava resolver com êxito… Só que ao chegar à zona de acesso à Pista de Alvalade, não havia qualquer sinalização, nem comissário de prova, que nos elucidasse, no caminho a seguir. Perante isso, raciocinei: «como andam em obras, no Estádio do Sporting, (facto que era do conhecimento público), certamente que a Chegada do Porto / Lisboa, será mais à frente, talvez no Campo Grande». E então prossegui o meu esforço seguido pelos dois corredores que me acompanhavam desde a ofensiva que lancei na subida da Carriche… Cem metros mais à frente, ainda e sempre na Alameda das Linhas de Torres, volto-me para observar a situação na retaguarda e, qual é o meu espanto e surpresa? O pelotão que circulava com os tais 200 / 300 metros de desvantagem, iniciava atrás, o acesso à Pista de Ciclismo do Alvalade!
E esta foi a minha Estória, nesse Porto / Lisboa, no qual cheguei ao fim, distanciado na vanguarda… Porém, a situação que aí encontrei, deu origem a que a vantagem de que dispunha, se transformou, no momento… em desvantagem!

O meu 4.º e último PORTO – LISBOA, aconteceu no ano em que eu, a treinar, sofri um queda de consequências graves, com fractura de crâneo, tendo ficado subjacente a perspectiva do meu fim como corredor de bicicleta. Contudo, felizmente consegui ”dar a volta por cima”, recuperei e voltei a correr, passados dois meses!
O Porto / Lisboa disputou-se pouco depois, tendo sido aquele que me foi mais fácil correr, situação que derivou, necessariamente, do estado psicológico com que enfrentei o evento, e me levou a encarar a tarefa como um não favorito, já que tinha justificações válidas relativamente ao meu baixo estado de forma e de saúde. Desta maneira o meu comportamento físico – técnico era de perfeita descontracção relativamente ao desenrolar da prova, ao contrário do que me acontecera nas edições anteriores. Foi assim que (praticamente em fim de carreira), consegui, à chegada à Pista de Alvalade, exibir uma imagem de descontracção que nada tinha a ver com a dum corredor que terminava uma prova de 360 quilómetros, conseguindo discutir, ao sprint, o 2.º lugar!
(O vencedor, foi Mário de Sá, que teve forças para manter a fuga que iniciara na Malveira).

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